sexta-feira, 16 de julho de 2010

"Algo não está cheirando bem!"

Meio que parafraseando a frase do secretário de meio ambiente do jogo para computador Simcity, que simula o desenvolvimento de uma cidade, começo o título deste post. O assunto pode desagradar alguns por se tratar de um assunto sujo, nojento, asqueroso, mas que todo mundo é responsável por ser assim, afinal, todos nós produzimos e jogamos lixo (achou que eu ía falar de políticos, né?). Vamos por partes...

Londrina é a cidade que mais recicla no país, segundo a Prefeitura e outros órgãos nacionais. Curitiba é a cidade em que a população mais recicla no país. Como assim? Londrina tem o lixo mais reciclado, Curitiba tem a população que mais recicla. Algo em torno de 25% do lixo da nossa cidade é reciclado. Parabéns! Porém, a realidade é mais suja do que parece, com o perdão do trocadilho...

Catadores separando o lixo em uma das ONGs espalhadas pela cidade, pouca ajuda da Prefeitura













Por várias vezes, a Prefeitura precisa negociar com as centrais de reciclagem, que são ONGs em muitos casos, e manter o sistema funcionando, vulgo, a Prefeitura ajuda nas despesas porque a reciclagem não tá dando lucro. Acho válido o Poder Público ajudar a manter o sistema, afinal, esse lixo iria para o lixão e saneamento também é isso, logo, responsabilidade do governo... ou não. Afinal, pode-se terceirizar tudo isso para empresas, mas prefere ajudar os catadores da cidade, distribuindo a renda.

Pátio da Sonoco, empresa que compra papelão das centrais de reciclagem em Londrina









Depósito de uma das ONGs de reciclados da cidade














Temos também outros entraves, como a Usina de Compostagem. Ela foi adquirida no governo do Cheida, lá no começo da década de 90, e apenas agora será ativada. E, melhor ainda, será em conjunto com o novo aterro controlado da cidade, que será terceirizado! Olha que coisa, né? O prefeito anterior buscou no lixo uma solução social e vira-e-mexe a cidade sofre com a paralisação dos catadores, o atual prefeito já terceirizou mais da metade do descarte de lixo na cidade. Como assim?

O novo aterro da cidade chamará Central de Tratamento de Resíduos (CTR) e será responsável pela seleção e descarte de tudo que é produzido em Londrina. O que é matéria orgânica será transformado em adubo na Usina de Compostagem, o que é reciclável será destinado às centrais de reciclagem e somente o que é descartável será depositado no aterro controlado, que capta o chorume, impermeabiliza o solo, controla o metano, etc. Finalmente, Londrina poderá dizer que tem um aterro controlado porque aquilo lá no final da pista do aeroporto é um lixão com todas as letras (e urubus, e gaivotas, e ratos...). Previsão é de estar pronto pra agosto, mas as obras estão atrasadas...

Lixão atual de Londrina, prazo para ser fechado é em setembro deste ano, Prefeitura pretende transformar a área em um parque












No início de 2008, na gestão passada, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) interditou o lixão de entulhos da cidade, que ficava em uma pedreira na Zona Leste, ao lado do Grêmio Londrinense. Assim, aonde as empresas de caçambas poderiam depositar o entulho das obras da cidade? Foi aí que surgiu uma empresa ambientalmente responsável, a Kurica Seleta Ambiental (olha outra terceirização aqui e em um governo do PT!). Esta empresa processa todo o entulho depositado lá, reciclando-o novamente para a construção civil. Lógico que nem tudo é aproveitado e o material que sai de lá reciclado não pode ser usado em toda a construção civil por oferecer menor resistência, mas é um aproveitamento bom que se faz.

O engraçado aqui é que para depositar o entulho lá, você paga uma taxa! Ou seja, a empresa recebe a matéria-prima dela de graça e ainda recebe $$$ por isso! Depois ela vende o produto que ela faz e ganha mais $$$ e ainda é ambientalmente responsável!!! É o sonho de todo empresário!

Temos também um aterro só para o depósito de galhos e matos, matérias vegetais. Não há muito o que falar aqui, seria mais uma sugestão de aproveitar essa folhagem para a criação de adubo, mas dizem que o manejo disso é pouco aproveitado considerando o volume das matérias. Nos EUA, eles trituram todos os galhos e utilizam a serragem para fazer madeira industrializada, os famosos MDFs e compensados da vida. Logicamente também oferecem menor resistência, mas é uma boa solução. #ficaadica

Podas de árvores e limpeza de terrenos possuem destino certo em Londrina, só poderiam aproveitar melhor esses resíduos

















Outra curiosidade são os ecopontos na cidade. Eles são pequenos terrenos espalhados pela cidade em 5 espaços, que se destinam ao descarte de entulho do pequeno gerador, pessoas comuns ou carroceiros. Após um tempo, a CMTU vai e limpa o terreno. Porém, os ecopontos causaram polêmica e ainda causam, pois é recente a instalação deles na cidade. A Prefeitura escolheu terrenos vizinhos a residências, logo, os moradores não gostaram nada da idéia. Os ecopontos surgiram para evitar que estes entulhos fossem parar em fundos de vale e outros espaços públicos, o que é muito louvável e eficiente a idéia, mas faltou bom senso na hora de escolher os locais... #fail

Despejo irregular em apenas um dos mais de 50 fundos de vale no perímetro urbano, a Prefeitura espera que, com os ecopontos, cenas como essas acabem na cidade









Parece ótimo o cenário, né? Cidade que mais recicla o seu lixo doméstico no país, implantação da usina de compostagem para aumentar ainda mais esse percentual, em conjunto, novo aterro sanitário controlado sem descarte irregular do chorume e controle do metano, usina de reciclagem de entulhos da construção civil já em operação, aterro de matérias vegetais, ecopontos... Porém, há um grave problema aqui... O que fazer com o descarte de materiais com metais pesados, vulgo, pilhas e baterias?

Durante anos, despejo de metais pesados também ocorreu no atual lixão













Isso ainda está no ar, ou melhor, na terra (perdão novamente pelo trocadilho...) e a população continua a descartá-los no lixo comum sem controle algum... O CTR separará este lixo, mas ainda não há orientação sobre como a população poderia proceder para não contaminar todo o lixo doméstico antes de chegar até o aterro controlado. Falta informação e postos de coleta...

A Lei federal diz que todos os fabricantes destes produtos devem recolhê-los, mas ninguém também fiscaliza essas empresas para exigir o cumprimento da Lei... Até onde eu sei, apenas o Super Muffato faz esta coleta nas suas 7 lojas em Londrina, mas só de pilhas. As baterias, algumas lojas de celular fazem a coleta, mas não são muito receptivos. A população precisa de orientação! Enquanto isso, o nosso solo e, pior ainda, o lençol freático estão sujeitos ao contamínio de mercúrio, cádmio, chumbo, lítio, níquel, etc...

Fotos de autores desconhecidos.

Um comentário:

Marcel disse...

Vale lembrar outro ponto aqui q esqueci de tratar...

Há tb a coleta de óleo usados em oficinas de carros e cozinhas de restaurantes, até mesmo caseiras.

Assim, como os metais pesados, é obrigação do fabricante recolher o material usado, mas gera vários problemas pq os fabricantes de óleo não querem se responsabilizar pelo óleo do concorrente e como depois q vc usa não tem como saber quem fabricou, só piora a situação para orientar a população...

Há tb a coleta de embalagens de agrotóxicos, mas esses já há vários programas do governo estadual e federal. E mesmo as centrais de reciclagem já separam e destinam a embalagem para o fabricante.