quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Antiga rodoviária será restaurada!

A antiga rodoviária de Londrina, que é o prédio onde está o atual Museu de Arte, será restaurada! Nesta terça-feira, dia 18 de janeiro, o prefeito Barbosa Neto (PDT) assinou a ordem de serviço dando início ao projeto de restauro do edifício, que é tombado pela Secretaria de Cultura do Estado do Paraná desde 1974 e aguarda tombamento na esfera federal, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

A antiga rodoviária é um projeto de 1948 e foi inaugurada em 1952, colocando Londrina em inúmeros livros de arquitetura por causa de suas linhas modernistas e criatividade ímpar de seu autor, foto de autor desconhecido
Durante o ano passado, através de licitação, foi selecionado o escritório de arquitetura que fará o projeto de restauro, ficando a cargo da ArquiBrasil, de Curtiba, que já é responsável pela restauração da antiga Casa da Criança, atual Secretaria de Cultura (ver post "Voltando às origens... Casa da Criança!"). Assim, começaram ontem o levantamento das condições atuais do edifício para iniciarem os trabalhos do que será necessário fazer.

As patologias mais evidentes são as infiltrações nas lajes e os desgastes das pastilhas, porém não é nada complicado de ser resolvido... O quê mais interfere na obra do mestre Vilanova Artigas, o arquiteto autor do projeto (ver post "Você sabia? (Vilanova Artigas)"), são as películas escuras nos vidros, os pilares acrescentados na tangente da última concha e as grades isolando o prédio do entorno.

Películas escuras foram colocadas nas esquadrias de vidro para proteger as obras do Museu de Arte, mas comprometeram a permeabilidade visual da edificação, foto de Maria Pisani
Essas intervenções foram feitas quando o edifício passou pela readequação para virar museu, em 1993. Na época, os Arquitetos Jorge Marão Carnielo Miguel e Antonio Carlos Zani  eram os responsáveis pelo processo de reuso da antiga rodoviária, que já estava desativada há 5 anos, quando foi inaugurada a nova rodoviária (ver post "Você sabia? (rodoviária)"). Ambos são professores na UEL e foram contra essas intervenções, sendo executadas à revelia de suas especificações, desrespeitando o projeto original de 1948.
A transparência dos vidros era um dos partidos principais do projeto por causa da permeabilidade visual que o usuário tem com o horizonte da cidade, que antes era coberto pelas plantações de café. Por isso que a Praça Rocha Pombo é tombada também! O tombamento da praça não é do projeto paisagístico dela, mas para manter essa vista livre de qualquer intervenção posterior... Já os pilares acrescentados vieram depois também, não estavam presentes na inauguração como o secretário de cultura Leonardo Ramos disse à imprensa. Não havia necessidade e interferem bastante na composição das 7 conchas projetadas por Vilanova Artigas! Tal intervenção foi feita pelo Engenheiro José Augusto Queiroz por "precaução"... As grades foram instaladas porque o secretário de cultura na época estava preocupado com a segurança das obras de arte no novo museu, assim, isolou o prédio do passeio público e da praça ao fundo, que eram totalmente permeáveis durante décadas, contribuindo para o seu abandono e degradação... #fail
Solução desastrosa de apoios desnecessários comprometeu a plasticidade do projeto original, foto de Maria Pisani 











Nessa foto, ainda na década de 50, mostra como eram os pilares saindo pela tangente da última das 7 conchas propostas pelo arquiteto, foto de autor desconhecido 







Outros apontamentos que os técnicos da ArquiBrasil devem contemplar, a meu ver, são os brises na face norte do edifício, que estão com o funcionamento bastante comprometido; a marquise da entrada que está fletindo lentamente, vulgo, caindo mesmo; e o paisagismo do jardim principal, que está muito alterado do projeto original...

A retirada dos aparelhos de ar condicionado também está incluída no projeto, que devem ser substituídos por outro sistema mais moderno, foto de Maria Pisani










Na realidade, o Museu de Arte nem devia ser ali... apesar do apêlo pela antiga rodoviária ser uma das grandes obras do mestre Vilanova Artigas, o prédio possui espaço inadequado para o acervo atual e insuficiente para fazer exposições de arte. Durante a faculdade, fizemos um trabalho de intervenção para que o edifício fosse novamente readequado a um uso mais coerente com a sua história... Seria a "central de turismo" da cidade, de onde partiriam ônibus com roteiros turísticos por Londrina e região, como de patrimônio histórico (edifício e monumentos), cultural (eventos e feiras) ou natural (parques e fundos de vale). Poderia haver também um restaurante e uma central de informações atualizadas sobre a cidade. Assim, formaria um conjunto com o Museu Histórico, a antiga ferroviária, que fica logo ali, integrando ambas as funções.
Por exemplo, um grupo de estudantes iria ao Museu Histórico, conhece a história da região e depois vai à Central de Turismo, onde obtém informações atuais sobre a cidade e pega um dos ônibus para fazer o passeio passando por todos os pontos que viu no museu. Assim, a antiga rodoviária estaria novamente recepcionando as pessoas que chegam a Londrina e querem conhecê-la melhor.
O escritório de arquitetura tem até o meio do ano para concluir os trabalhos, mas o início das obras ainda depende de verbas que a Prefeitura não tem... Uma das opções é buscar junto ao governador Beto Richa (PSDB), por conta do tombamento estadual, e se for tombado pelo IPHAN durante esse tempo, pode haver mais facilidade para obter recursos federais. Mas, há também a possibilidade de patrocínios de empresas, o quê seria uma grande oportunidade para todos os empresários por causa da Lei Cidade Limpa (ver post "Lei Cidade Limpa: falta 1 mês!").

Novos tempos para a antiga rodoviária... nesta imagem dá para ver como era o  jardim, que espero ser contemplado também na restauração, foto de Yutaka Yasunaka








Vilanova Artigas em sua visita a Londrina logo após o tombamento do edifício, que é o 1º projeto modernista do Sul do país, foto de autor desconhecido











Assim, o atual governo está fazendo um ótimo avanço nessa área da preservação do patrimônio histórico de Londrina, começou com a restauração da Casa da Criança, passa agora pela antiga rodoviária e logo mais o Cadeião também será transformado em um centro cultural (está quase pronto o post sobre isso). Porém, apesar de tudo isso, o Calçadão ainda deve ser lembrado (ver post "Calçadão... saudades ou progresso?") como um ponto negativo... Parabenizo as outras iniciativas, mas lamento o descuido nesse outro espaço...

Um comentário:

Anônimo disse...

Obra espetacular de um espetacular arquiteto...