segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ponto de vista de um publicitário...

O blog agora abrirá espaço para um texto muito interessante enviado pelo Publicitário Julio Ernesto Bahr. Ele respondeu ao meu contato após o post "Lei Cidade Limpa... sim ou não?" e enviou para mim um artigo que ele escreveu recentemente e que era para ser publicado no JL, na época que a tal Lei foi aprovada na Câmara e sancionada pelo prefeito. Julio Bahr é também blogueiro e vocês podem conferir o trabalho dele nos blogs bahr-baridades e Visual de Londrina.

Confiram o interessante texto e vejam que a discussão para "limparmos" a paisagem de nossa cidade também é defendida pelos publicitários, ou seja, podemos e temos outros meios de divulgarmos produtos, é só usar a criatividade. #ficaadica

Autorregulamentação X Alto faturamento

Em certo dia de 1980, eventualmente ensolarado, pássaros chilreando (lindo) e a boa vontade voejando pelo ar (mais lindo ainda), agências de propaganda, veículos de comunicação e anunciantes, todos devidamente bem representados, sentaram-se à mesa de reuniões. Cansados das reclamações de consumidores, jornais, rádios, revistas e emissoras de televisão, e ainda dos vários puxões de orelha recebidos de entidades públicas e associações disso e daquilo, colocaram em vigor uma espécie de bíblia que veio normatizar o setor da propaganda: o Código de Autorregulamentação Publicitária.

A partir do tal Código, descobriu-se que a publicidade enganosa não seria mais aturada; que os veículos de comunicação poderiam denunciar anúncios mal intencionados; que aqueles consumidores que se sentissem ofendidos teriam um canal de comunicação; que agora existiam regras para comerciais de bebidas alcoólicas; que dúvidas sobre alguma peça publicitária seriam colocadas em discussão no CONAR – o Conselho que supervisiona tal autorregulamentação. E vários outros tópicos.

Em Londrina, contrariamente, apesar das queixas dos londrinenses, apesar das reclamações contínuas nos jornais, das denúncias na televisão, das cartas de urbanistas e do clamor geral, as agências de propaganda, empresas de publicidade exterior e os anunciantes jamais cogitaram de procurar sequer alguma mesa de reuniões (quanto menos reunir-se) para juntas discutirem o assunto da poluição visual na cidade.

Talvez porque não houvesse pássaros chilreando ao redor. Ou porque não existisse boa vontade voejando pelo ar. Ao invés de autorregulamentação, alto faturamento, custasse o que custasse.

E entupiu-se a cidade com outdoors. Para caber maior quantidade, formaram filas, como se fossem trenzinhos. E entupiu-se a cidade com front-lights. O que importa se estiverem tirando a visão dos moradores do prédio? E encontraram mais e mais terrenos, para mais e mais aglomerações de placas, cartazes e outdoors.

E inventaram dois, três e até quatro andares sobrepostos de outdoors. E montaram luminosos, placas, faixas, penduricalhos na frente das lojas e do comércio em geral. E pintaram famigerados "reclames" nos muros - inclusive em áreas nobres da cidade. E fizeram de Londrina uma das cidades mais poluídas visualmente do Brasil.

Mesmo no intervalo de tempo decorrido entre a apresentação do projeto "Cidade Limpa" pelo prefeito à Câmara dos Vereadores, da audiência pública e das discussões a respeito do assunto, jamais se cogitou de algo parecido com um "Êpa! Alto lá! Vamos rever este assunto! Vamos reverter a situação! Vamos agir por conta própria!".

Não. A cidade continua exatamente como há um ano e assim permanecerá até que o projeto "Meia Cidade Limpa", finalmente aprovado pelos vereadores, tome alguma feição, algum rosto - e a Prefeitura passe a ditar as normas das quais se eximiu durante anos a fio.

Autorregulamentação? Que nada. Alto faturamento, isto sim!

Nenhum comentário: