terça-feira, 29 de março de 2011

Ponto de vista de um arquiteto e urbanista...

Hoje, publico outro texto que não é de minha autoria, mas achei muito interessante a crítica feita pelo meu amigo, o Arquiteto e Urbanista Lucas Melchiori, sobre quão mal tratada é a paisagem urbana da nossa cidade, pela falta de objetividade e foco dos nossos governantes, além da ganância dos especuladores imobiliários que em nome do "progresso" lutam apenas para si mesmos.

Lucas escreve reflexões e críticas sobre o quê observa no seu cotidiano e utiliza Londrina como palco para as suas produções no blog NoREFLEXOdaTV. Recomendo a leitura e confira abaixo um desses textos:

E em mais uma tarde, o sol ilumina a fumaça dos carros inertes a minha frente,

paralisados pelo encontro de milhares de rotinas no fim do expediente, na Rua Goiás, promovida agora com duas faixas em cada sentido a uma artéria entupida de não-lugares. Antes tão teórico na faculdade, agora meu vizinho temporário nessa parada forçada pelos sinais vermelhos-verdes-vermelhos que parecem não significar pare-ande-pare, mas pare-espere-pare-atrase-pare-desencane, São essas fachadas acidentais, sem acabamento, retratos do perfil impensado de prédios já sem viço, tão vazias de significado e propósito, que contemplo e não identifico como minha cidade.

Todo engarrafamento que me prende por ali - e a algum tempo são diários - permitem que desenvolva um exercício de imaginação projetual: construo passarelas e fachadas, galerias povoadas por tatuadores, lan houses, lanchonetes, barzinhos com mirantes sobre uma floricultura, que espaçada por um pátio demarcado por jasmins mangas enfileirados dão espaço para mesinhas do café que em minha fantasia eu mesmo abri.

Mas nada disso há ali, não há sequer perspectiva de qualquer coisa próxima disso ocorrer, porque um dos vizinhos que se avizinha de todos é uma legislação idosa que se orgulha de engessar qualquer ousadia arquitetônica que proponha uma concentração acentuada, como se o ferver de mesas de um bar fossem causar o caos na cidade, como se um floricultor que resolvesse adotar uma praça fosse um usurpador do bem publico e a alçada se misturar a um edifício, permitindo o distanciamento momentâneo do passeio fosse uma inversão de valores incabível.

O outro vizinho, a dona especulação imobiliária, com a avareza e a miopia que lhe são peculiares, jamais entenderia que o investimento em qualidade de vida, muito mais que uma proposta de marketing deve ser uma realidade executada como investimento para lucros futuros. Lucro para todos, principalmente para os que passam por ali.

Em vez disso é mais fácil enfileirar uns outdoors.

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