Depois do 1º dia de manifesto do movimento "Ocupa Londrina", no sábado passado, dia 12 de novembro, foram convocadas novas manifestações todos os dias seguintes que vão durar ao longo da semana. Assim, como ontem era o feriado da Proclamação da República e o tempo abriu após as chuvas desde o fim-de-semana, mais de 250 pessoas participaram das atividades!
O "Ocupa Londrina" surgiu no facebook após a divulgação de uma foto do jornalista Guto Rocha, que revoltado com o corte das árvores na sexta-feira passada, dia 11 de novembro, publicou uma foto em seu perfil. Rapidamente, houve centenas de compartilhamentos que chegaram até um grupo de discussão sobre arte e cultura na cidade, que já existia no facebook, é o grupo "Pé Vermelho". Assim, as pessoas aproveitaram aquele espaço para decidirem o quê fazer sobre o assunto e criaram o manifesto inspirados no "Occupy Wall Street", mas com o intuito de discutir o quê está acontecendo em Londrina por conta das intervenções urbanísticas da atual administração, que está esquecendo a história e a cultura da cidade.
No feriado do dia 15 de novembro, 4º dia de ocupação, mais de 250 pessoas participaram das atividades, foto de Naid Melo Moura
Não entrarei no mérito da questão ambiental, se foi ou não foi crime ambiental o corte das árvores do Bosque, que já gera polêmica porque alguns dizem que eram espécies na lista vermelha das ameaçadas de extinção, como a Jacaratia spinosa, também conhecida como Mamoeiro-do-mato... Assim, quem está cuidando disso é o IAP (Instituto Ambiental do Paraná), que notificou a Sema (Secretaria de Meio Ambiente) e a Secretaria de Obras, responsáveis pelo corte, e o IPPUL (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), responsável pelo projeto, para darem explicações e EMBARGOU a obra hoje, dia 16 de novembro. A ONG MAE (Meio Ambiente Equilibrado) também entrará com recursos no MP (Ministério Público) pedindo a paralisação das obras até que tudo seja explicado e até julgado, pois há um processo na Secretaria de Cultura do Estado pedindo o tombamento da área.
Assim, vou emitir opiniões no que diz respeito à minha área de formação, Arquitetura e Urbanismo. Logo, o principal ponto que vale lembrarmos para a discussão deste assunto é a representatividade desta área na história e no cotidiano de Londrina. Portanto, na vida cultural da cidade! Sim, o Bosque foi largado às moscas, ou melhor, aos pombos, por muitos anos e achamos que teríamos algo positivo quando retiraram as grades (ver post "Um suspiro para o Bosque..."), mas fomos surpreendidos com este belo tapa na cara, onde na contramão dos novos pensamentos urbanísticos, o prefeito decidiu valorizar os carros ao retroceder um avanço do passado, quando foi fechado para os pedestres e transformado na ÚNICA área de esporte e lazer do Centro da cidade, o Zerinho...!
Dizem que serão replantadas mais do que 4x o número de árvores cortadas e que toda a área do Zerinho será realocada pelo Bosque, assim como, o parquinho infantil e a quadra de esportes... perguntas:
- Cadê o projeto?
- Quem assinou?
- Onde serão realocadas as áreas?
- Cadê o levantamento feito pelo IPPUL?
- Cadê a pesquisa feita pelo Instituto de PES-QUI-SA e Planejamento Urbano de Londrina???
Sinceramente? Acredito que nada foi feito, apenas fizeram pelo mero "achismo". Até imagino qual foi a brilhante pesquisa feita: uma simples contagem de carros nas esquinas ao redor e SÓ! Essa foi a "grande pesquisa" realizada... E, mais uma vez, estão eliminando uma área tão importante na história da cidade com uma justificativa pobre e com pouco embasamento... É que há um enorme congestionamento nos horários de pico, né? A pessoa deve gastar uns 5min. pra passar por ali, o quê já é o caos, né!!! NOT!
Abrir a r. Piauí vai ajudar pouquíssima coisa porque ela morre 2 quadras depois! E para fazer isso, terão que eliminar as vagas de estacionamento existentes em frente ao Centro Comercial (ver post "Você sabia? (Centro Comercial)"), que hoje são em 45º e vão ter que ser alinhadas com o meio-fio para dar a tão esperada vazão de fluxo extraordinária estimada pelos técnicos do IPPUL!!! óh! NOT²!
Os meios de transporte precisam estar alinhados e integrados, tanto o individual, como o coletivo. No caso, o individual inclui também os pedestres, não são só os carros (como muitos pensam), afinal, geralmente 1/3 das viagens de uma cidade são feitos a pé (até a capital paulista atinge essa proporção). A travessia por pedestres no Bosque não é só uma questão técnica, é cultural! Além de ser a única área de lazer e esportes do Centro, deve ser mantida a interligação das 2 quadras de mata, SIM! Isso é crucial para a requalificação futura da área! Mesmo quando havia o terminal de ônibus ali, era um modal que fazia uma conexão entre as quadras, já uma rua é um claro divisor.
Abrir a r. Piauí vai ajudar pouquíssima coisa porque ela morre 2 quadras depois! E para fazer isso, terão que eliminar as vagas de estacionamento existentes em frente ao Centro Comercial (ver post "Você sabia? (Centro Comercial)"), que hoje são em 45º e vão ter que ser alinhadas com o meio-fio para dar a tão esperada vazão de fluxo extraordinária estimada pelos técnicos do IPPUL!!! óh! NOT²!
Os meios de transporte precisam estar alinhados e integrados, tanto o individual, como o coletivo. No caso, o individual inclui também os pedestres, não são só os carros (como muitos pensam), afinal, geralmente 1/3 das viagens de uma cidade são feitos a pé (até a capital paulista atinge essa proporção). A travessia por pedestres no Bosque não é só uma questão técnica, é cultural! Além de ser a única área de lazer e esportes do Centro, deve ser mantida a interligação das 2 quadras de mata, SIM! Isso é crucial para a requalificação futura da área! Mesmo quando havia o terminal de ônibus ali, era um modal que fazia uma conexão entre as quadras, já uma rua é um claro divisor.
Há também um estudo para o tombamento estadual do área, mas vale lembrar que nem sempre é sobre o construído, o existente... pode ser também sobre o imaginário ou a representatividade, como é o caso da Praça Rocha Pombo, que é tombada mas para preservar a permeabilidade visual que o edifício da antiga rodoviária, atual Museu de Arte, possui com a Zona Norte da cidade. O projeto do Arquiteto Vilanova Artigas valorizava a vista para os cafezais existentes ao norte, que hoje não existem mais, mas preservou-se a intenção enquanto crucial para o entendimento do partido adotado no desenho das formas deste belíssimo exemplar do modernismo brasileiro (ver post "Você sabia? (Vilanova Artigas)" e "Antiga rodoviária será restaurada!").
Acho que a discussão precisa ser levada mais para o lado da representatividade histórica e cultural que o Bosque possui com a população londrinense do que com a viabilidade do prolongamento da r. Piauí ou com o corte das árvores, pois estes argumentos enfraquecem quando apresentam "estudos técnicos" (entre aspas porque eu questiono a capacidade técnica de muita gente do IPPUL, pouquíssimos se salvam lá dentro).
Crianças plantaram espécies nativas e ameaçadas de extinção no local onde foi destruído o Zerinho, um local público também é feito da participação popular, não de meia dúzia de "técnicos", foto de Rosália Toledo
Na minha opinião, a foto mais bonita até agora, pois mostra uma criança (o futuro), com a terra vermelha de Londrina (o maior símbolo da cidade) em suas mãos após plantar uma muda no Bosque (o alvo da preservação), foto de Gina Mardones