O 12º post desta seção tratará
sobre João Batista
Vilanova Artigas, um dos arquitetos mais célebres da
história brasileira, que ajudou a fundar a Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP (FAU-USP), a mais reconhecida de nosso país e uma das
mais respeitadas no mundo. Ele é o arquiteto brasileiro mais premiado pela
UIA (União Internacional de Arquitetos) e também contribuiu muito com a
"escola paulista",
que é uma classificação da arquitetura brasileira no período modernista -
pode-se dizer também pós-modernista com o "brutalismo" (há também a
"escola carioca",
cujo representante mais conhecido é o Oscar Niemeyer).
Além de ajudar na fundação e
projetar o edifício da FAU (na foto), Artigas também era professor da
instituição, foto de autor desconhecido
Mas o quê isso tem a ver com
Londrina? Artigas era curitibano e foi chamado
para projetar em Londrina vários edifícios que marcaram a época e foram
fundamentais para o nosso crescimento:
- Rodoviária: ele foi
contratado pela Prefeitura para fazer a antiga rodoviária de Londrina,
que era onde hoje é o Museu de Arte, ali na r. Sergipe. Participou
deste projeto também o Arquiteto Carlos Cascaldi. É o primeiro edifício
modernista do Sul do Brasil que foi tombado, em 1974.
Foto
de Yutaka Yasunaka
- Teatro
Ouro Verde:
um grupo de empresários locais queria construir o cinema mais luxuoso do
Paraná e, assim, aproveitaram a vinda do arquiteto para a cidade e o
chamaram para fazer o projeto (ver post
"Você
sabia? (Teatro Ouro Verde)"). Carlos Cascaldi
também participou desta empreitada e o Ouro Verde foi tombado em 1998.
- Ed.
Autolon:
o mesmo grupo de empresários do Ouro Verde também o contratou para
construir o moderno edifício de escritórios. Chamava-se Autolon por causa
da concessionária Chevrolet que havia em seu térreo, "Automóveis Londrina S.A.".
Entre o Autolon e o Ouro Verde havia o Restaurante e Confeitaria Calloni
com um jardim integrando o conjunto, que não era projeto deles e não
existe mais porque construíram uma loja ali... Aliás, é por isso
que o edifício não foi tombado junto com o Ouro Verde... #fail
Foto
de autor desconhecido
- Casa da Criança:
a creche da cidade com traços "corbusianos"
está sendo recuperada ao projeto original, ela foi muito modificada e
hoje é a Secretaria de Cultura, já foi também a Biblioteca Municipal (ver post "Recuperação
da Casa da Criança..." e "Voltando
às origens... Casa da Criança!"). Apesar do
restauro, o edifício ainda não é tombado justamente por causa das inúmeras
alterações que fizeram no passado...
Foto
de autor desconhecido
- Casa
Milton Menezes: era a residência do ex-prefeito de mesmo nome. Ele
que chamou Artigas para os primeiros projetos na cidade, depois o
contratou por fora para fazer a sua residência que fica ali na r. Hugo
Cabral, em frente ao Colégio Hugo Simas. Agora é uma loja de confecções
lá, mas já foi muito mais conservada quando era a escola de inglês no ano
passado... #fail
- Santa
Casa:
apenas o anexo da Santa Casa, olhando o prédio antigo de frente, é aquela
parte ao lado esquerdo. Mas nem se considera mais porque foi totalmente
descaracterizado, nem vale a pena visitar. Infelizmente, isso é algo
normal em arquitetura hospitalar, pois sofrem muitas modificações devido
às normas técnicas que vão se alterando ao longo do tempo e por causa das
novas demandas também.
- Londrina
Country Club: um dos vestiários do clube foi projetado por
Artigas, mas também já foi muito modificado e nem há registros
fotográficos antigos, apenas o projeto em papel que mostra uma
solução com rampas e solta do chão, sustentada por pilotis (pilares). Pode
ser visto entre as quadras de tênis e as quadras
poliesportivas cobertas, mas também está bastante alterado.
As obras
de Vilanova Artigas e Cascaldi colocaram Londrina em vários livros de Arquitetura
e - devido ao renome
nacional e internacional
do primeiro autor - também trouxe para a cidade inúmeros
estudantes e arquitetos que querem conhecer suas obras. Pena que os londrinenses mesmo
valorizem tão pouco esses monumentos do modernismo brasileiro, que são tão
ricos em criatividade e marcantes em uma época de desenvolvimento da nossa
cidade, sendo um marco de ruptura da madeira para
o concreto
nas construções locais.
Foi exilado em 1969 pela ditadura
militar e logo mais já retornou ao país, foto de autor desconhecido
Artigas faleceu em 1985, em
São Paulo, capital, aos 69 anos, mobiliário também faz parte de seus
projetos (cadeira "Preguiça"), foto de autor desconhecido
Um olhar
mais atento poderia transformar essas obras para haver um turismo acadêmico
muito forte na cidade ao interligá-las e, assim, atrair inúmeros estudantes, professores e profissionais de
Arquitetura para Londrina. Durante a minha faculdade, eu ajudei a organizar
várias palestras e outros eventos acadêmicos na UEL, e sempre os palestrantes,
ou os participantes, que vinham de fora, faziam questão de visitar a
antiga rodoviária (atual Museu de Arte), a Casa da Criança (atual Secretaria da
Cultura) e o conjunto Teatro Ouro Verde e Ed. Autolon - os únicos
remanescentes, mesmo que parcialmente intactos. Inclusive, a italiana
Arquiteta Corinna Morandi, que veio a Londrina no mês de setembro (ver post "Palestra:
'Comércio, cidade e revitalização urbana'"), quis
visitá-las também, mais uma prova do reconhecimento do mestre, tanto no
Brasil, como internacionalmente.
Os
projetos mais famosos do Artigas fora de Londrina são o Estádio do Morumbi,
que está sendo cogitado para sediar a Copa do Mundo; a própria sede da FAU, no campus da USP;
o Ed. Louveira
em Higienópolis, um edifício residencial na capital paulista; a rodoviária de Jaú, no
interior paulista; o Santa
Paula Iate Clube, na represa Guarapiranga, também na capital
paulista; além de inúmeras residências
em Curitiba e no estado de São Paulo.
Um comentário:
Oi, Marcel! Adorei o post! Só discordo em um ponto: um bem não deixa de ser tombado por estar descaracterizado... seria o contrário... Por ser importante e estar com muitas interferências é que se teria um ótimo motivo para o tombamento e assim conseguir mais recursos para recuperar a obra e uma fiscalização mais adequada para os projetos a serem empreendidos no bem. Muitas vezes o tombamento incide sobre obras arruinadas, abandonadas e bastante degradadas e quanto mais esferas de tombamento tiver (municipal, estadual e federal) melhor, pois maior será a fiscalização.
Agora, se é esta a lógica usada pelo IPHAN Paraná ou Secretaria do Estado, isso explica muita coisa rs!
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