quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Você sabia? (Vilanova Artigas)

O 12º post desta seção tratará sobre João Batista Vilanova Artigas, um dos arquitetos mais célebres da história brasileira, que ajudou a fundar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), a mais reconhecida de nosso país e uma das mais respeitadas no mundo. Ele é o arquiteto brasileiro mais premiado pela UIA (União Internacional de Arquitetos) e também contribuiu muito com a "escola paulista", que é uma classificação da arquitetura brasileira no período modernista - pode-se dizer também pós-modernista com o "brutalismo" (há também a "escola carioca", cujo representante mais conhecido é o Oscar Niemeyer).

Além de ajudar na fundação e projetar o edifício da FAU (na foto), Artigas também era professor da instituição, foto de autor desconhecido























Mas o quê isso tem a ver com Londrina? Artigas era curitibano e foi chamado para projetar em Londrina vários edifícios que marcaram a época e foram fundamentais para o nosso crescimento:
  • Rodoviária: ele foi contratado pela Prefeitura para fazer a antiga rodoviária de Londrina, que era onde hoje é o Museu de Arte, ali na r. Sergipe. Participou deste projeto também o Arquiteto Carlos Cascaldi. É o primeiro edifício modernista do Sul do Brasil que foi tombado, em 1974.
Foto de Yutaka Yasunaka













  • Teatro Ouro Verde: um grupo de empresários locais queria construir o cinema mais luxuoso do Paraná e, assim, aproveitaram a vinda do arquiteto para a cidade e o chamaram para fazer o projeto (ver post "Você sabia? (Teatro Ouro Verde)"). Carlos Cascaldi também participou desta empreitada e o Ouro Verde foi tombado em 1998.
Foto de Francisco de Almeida













  • Ed. Autolon: o mesmo grupo de empresários do Ouro Verde também o contratou para construir o moderno edifício de escritórios. Chamava-se Autolon por causa da concessionária Chevrolet que havia em seu térreo, "Automóveis Londrina S.A.". Entre o Autolon e o Ouro Verde havia o Restaurante e Confeitaria Calloni com um jardim integrando o conjunto, que não era projeto deles e não existe mais porque construíram uma loja ali... Aliás, é por isso que o edifício não foi tombado junto com o Ouro Verde... #fail
Foto de autor desconhecido














  • Casa da Criança: a creche da cidade com traços "corbusianos" está sendo recuperada ao projeto original, ela foi muito modificada e hoje é a Secretaria de Cultura, já foi também a Biblioteca Municipal (ver post "Recuperação da Casa da Criança..." e "Voltando às origens... Casa da Criança!"). Apesar do restauro, o edifício ainda não é tombado justamente por causa das inúmeras alterações que fizeram no passado...
Foto de autor desconhecido














  • Casa Milton Menezes: era a residência do ex-prefeito de mesmo nome. Ele que chamou Artigas para os primeiros projetos na cidade, depois o contratou por fora para fazer a sua residência que fica ali na r. Hugo Cabral, em frente ao Colégio Hugo Simas. Agora é uma loja de confecções lá, mas já foi muito mais conservada quando era a escola de inglês no ano passado... #fail
  • Santa Casa: apenas o anexo da Santa Casa, olhando o prédio antigo de frente, é aquela parte ao lado esquerdo. Mas nem se considera mais porque foi totalmente descaracterizado, nem vale a pena visitar. Infelizmente, isso é algo normal em arquitetura hospitalar, pois sofrem muitas modificações devido às normas técnicas que vão se alterando ao longo do tempo e por causa das novas demandas também. 
  • Londrina Country Club: um dos vestiários do clube foi projetado por Artigas, mas também já foi muito modificado e nem há registros fotográficos antigos, apenas o projeto em papel que mostra uma solução com rampas e solta do chão, sustentada por pilotis (pilares). Pode ser visto entre as quadras de tênis e as quadras poliesportivas cobertas, mas também está bastante alterado.
As obras de Vilanova Artigas e Cascaldi colocaram Londrina em vários livros de Arquitetura e - devido ao renome nacional e internacional do primeiro autor - também trouxe para a cidade inúmeros estudantes e arquitetos que querem conhecer suas obras. Pena que os londrinenses mesmo valorizem tão pouco esses monumentos do modernismo brasileiro, que são tão ricos em criatividade e marcantes em uma época de desenvolvimento da nossa cidade, sendo um marco de ruptura da madeira para o concreto nas construções locais.

Foi exilado em 1969 pela ditadura militar e logo mais já retornou ao país, foto de autor desconhecido




















Artigas faleceu em 1985, em São Paulo, capital, aos 69 anos, mobiliário também faz parte de seus projetos (cadeira "Preguiça"), foto de autor desconhecido
















Um olhar mais atento poderia transformar essas obras para haver um turismo acadêmico muito forte na cidade ao interligá-las e, assim, atrair inúmeros estudantes, professores e profissionais de Arquitetura para Londrina. Durante a minha faculdade, eu ajudei a organizar várias palestras e outros eventos acadêmicos na UEL, e sempre os palestrantes, ou os participantes, que vinham de fora, faziam questão de visitar a antiga rodoviária (atual Museu de Arte), a Casa da Criança (atual Secretaria da Cultura) e o conjunto Teatro Ouro Verde e Ed. Autolon - os únicos remanescentes, mesmo que parcialmente intactos. Inclusive, a italiana Arquiteta Corinna Morandi, que veio a Londrina no mês de setembro (ver post "Palestra: 'Comércio, cidade e revitalização urbana'"), quis visitá-las também, mais uma prova do reconhecimento do mestre, tanto no Brasil, como internacionalmente.

Os projetos mais famosos do Artigas fora de Londrina são o Estádio do Morumbi, que está sendo cogitado para sediar a Copa do Mundo; a própria sede da FAU, no campus da USP; o Ed. Louveira em Higienópolis, um edifício residencial na capital paulista; a rodoviária de Jaú, no interior paulista; o Santa Paula Iate Clube, na represa Guarapiranga, também na capital paulista; além de inúmeras residências em Curitiba e no estado de São Paulo.

Um comentário:

Dafne disse...

Oi, Marcel! Adorei o post! Só discordo em um ponto: um bem não deixa de ser tombado por estar descaracterizado... seria o contrário... Por ser importante e estar com muitas interferências é que se teria um ótimo motivo para o tombamento e assim conseguir mais recursos para recuperar a obra e uma fiscalização mais adequada para os projetos a serem empreendidos no bem. Muitas vezes o tombamento incide sobre obras arruinadas, abandonadas e bastante degradadas e quanto mais esferas de tombamento tiver (municipal, estadual e federal) melhor, pois maior será a fiscalização.
Agora, se é esta a lógica usada pelo IPHAN Paraná ou Secretaria do Estado, isso explica muita coisa rs!